Exportadores de mel criticam demora no apoio do governo federal para enfrentar tarifaço dos EUA
19/09/2025
(Foto: Reprodução) Safra do mel: preços do produto estão em queda e preocupam os apicultores
Exportadores de mel criticaram a demora do governo federal em apoiá-los após o governo dos Estados Unidos, país que mais importa a mercadoria, aplicar tarifa de 50% a produtos brasileiros desde 6 de agosto.
O setor reivindica, principalmente, linhas de crédito específicas que ajudem a manter o fluxo de vendas. "A questão tem sido essa, a demora da chegada da linha de crédito", afirmou o presidente da Associação Brasileira dos Exportadores de Mel (Abemel), Renato Azevedo ao g1.
O Grupo Sama, do Piauí, que é o maior produtor de mel orgânico do Brasil e da América do Sul, afirmou que, mais de um mês após o início da tarifa, a situação piorou, com alta nos custos e perda de poder de negociação com clientes.
“Não podemos perder espaço no mercado americano, e tampouco deixar de cumprir os contratos. Onde está a ajuda do governo? Até agora nada aconteceu. Se não nos organizarmos para manter as vendas, a produção estará liquidada”, declarou Samuel Araújo, o CEO do grupo.
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O Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) informou ao g1 que o plano Brasil Soberano lançou linhas de crédito de R$ 40 bilhões, com juros baixos, para empresas afetadas pela tarifa imposta pelo governo Trump.
"Essas linhas devem começar a ser operadas pelo BNDES nesta semana – e poderão ser usadas para capital de giro, prospecção e abertura de novos mercados, investimentos em linhas de produção e diversificação tecnológica", afirmou em nota.
Samuel Araújo disse que a restituição de créditos tributários prometida pelo governo para empresas exportadoras com ao menos 5% do faturamento em vendas externas ainda não avançou. O MDIC informou que a medida, ligada ao programa Reintegra, depende de aprovação do Congresso Nacional.
O ministério afirmou que já estão disponíveis o diferimento de impostos e a antecipação do drawback, que reduz custos ao isentar tributos sobre insumos importados usados na produção para exportação.
O Grupo Sama informou que segue negociando com clientes e tem feito alguns embarques, mas em volume abaixo do necessário. “Os clientes seguem travados. Mesmo assim, mantivemos as compras de mel dos apicultores, pagando mais pelo produto devido à queda da produção”, afirmou o CEO.
Segundo o grupo, os clientes querem pagar menos pelo mel, mas os preços no campo não caíram devido à baixa produção. “É uma situação de forte pressão sobre a nossa atividade”, concluiu Samuel Araújo.
Desafios do setor
O presidente da Abemel afirmou que setor enfrenta três tipos de desafios: de curto, médio e longo prazo. Inicialmente, a preocupação é honrar os compromissos com os apicultores devido à parada das novas contratações de exportação.
A médio prazo, Renato Azevedo acredita que deveria haver um incentivo para aumento do consumo de mel no mercado interno. "Nosso país tem uma média de consumo per capita anual próximo das 170g, enquanto países como EUA e alguns da Europa superam as 400g", disse.
"Se conseguíssemos chegar nesse nível de consumo no mercado interno, diminuiríamos a dependência do mercado americano. Precisamos mudar o hábito de consumo do mel no Brasil, que hoje ocorre apenas como remédio", completou.
Ele também defende um projeto para adicionar valor agregado ao mel. "A Nova Zelândia fez isso há cerca de 30 anos, e hoje exporta o Mel de Manuka a cerca de US$ 25 mil a tonelada, enquanto nós exportamos a 3,5 mil", explicou.
"Eles fizeram um trabalho com várias frentes: universidades, governo, iniciativa privada, e criaram 'grades' e indicações para o mel de manuka", completou.
"Nosso mel orgânico no Brasil tem potencial para fazer o mesmo tipo de trabalho, mas é algo de longo prazo. Se conseguíssemos fazer isso, teríamos condição de agregar um valor enorme a toda a cadeia do mel brasileiro", pontuou Renato.
Ele reconhece que o governo foi pego de surpresa com o tarifaço, mas acredita que essas questões precisam ser pensadas para o futuro. "Isso [a demora da chegada da linha de crédito] era até relativamente esperado, dada a urgência e rapidez com que o governo teve que agir", disse.
"Hoje, em razão até da urgência, o governo está agindo apenas no curto prazo. Não podemos criticar qualquer ajuda que seja, mas os desafios que tem potencial para mudar o nosso setor estão no médio e longo prazo", declarou.
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Sávio Magalhães/TV Clube
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